CONFEDERAÇÃO DO DESPORTO DE PORTUGAL

De forma a dissecar o papel das autarquias no apoio ao desporto em Portugal, e também pelo impacto desse apoio no próprio desenvolvimento das autarquias, a rúbrica “CDP Entrevista” voltou para mais uma sessão de debate, que contou com a participação de Jorge Vieira, Presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, Manuel Assunção, Presidente da Assembleia Geral da Confederação do Desporto de Portugal e Pedro Patacho, Vereador do Desporto da Câmara Municipal de Oeiras, com o pelouro da Educação e da Agenda para a Ciência e Inovação.


Para Jorge Vieira, “sem o apoio financeiro das autarquias, o desporto não sobreviveria em Portugal”. O Presidente da Federação Portuguesa de Atletismo realçou ainda, as medalhas recentemente conquistadas pela modalidade, reforçando que esses êxitos só foram conseguidos porque tiveram o apoio das autarquias, uma vez que, o apoio estatal não chega aos clubes.

Por seu lado, Pedro Patacho, exaltou a importância vital dos clubes como ponto de encontro das atividades para a prática desportiva. “Tudo começa nos clubes locais. Tudo começa com as crianças e os jovens. Em Oeiras temos mais de 70 clubes ativos a oferecer mais de 60 atividades”. Na ótica do Vereador do Deporto da Câmara Municipal de Oeiras, esta junção só é eficaz porque na sua génese agrega não só os atletas, mas também os treinadores, o público, faz a ligação entre várias instituições, o que aumenta o número de eventos, contribui para o melhoramento da economia local e dinamiza a cultura nacional.

Manuel Assunção defendeu a extrema importância do apoio das autarquias ao desporto, acrescentado que, apesar de Portugal ter muitas evidências e benefícios, peca pela falta de bibliografia sobre o tema. O Presidente da Assembleia Geral da CDP é ainda da opinião que as autarquias têm contribuído para a divulgação e prática de atividades desportivas além do futebol, apesar de considerar que, “vivemos num país muito baseado no achismo ”.

“Existe muito o capítulo do acho…”, reforçou Jorge Vieira, alimentando a existência de vários “ses” no que respeita ao desporto, acreditando que certas matérias seriam muito mais simples se existisse um alinhamento de conceitos entre as autarquias, as federações e o próprio governo central, de forma a haver uma resposta nacional. “Há a autarquia que acha que o importante é o desporto para todos, há a autarquia que aposta no desporto de rendimento...”.

Apesar de defender esse alinhamento geral “para o bem do desporto nacional”, o Presidente da Federação Portuguesa de Atletismo não esqueceu o principal fator do sucesso dos clubes – o talento dos seus atletas. “É fundamental”, éo que permite o festejo dos resultados.

Já Pedro Patacho, acredita que a questão da falta de alinhamento não afeta só o desporto, referindo-se a uma “espécie de tragédia nacional”. O Vereador do Desporto da CM de Oeiras defendeu que “não há qualquer tipo de política que não seja baseado em fatos e conhecimentos”. De forma a atenuar essa lacuna, a própria Câmara já desenvolveu várias medidas para dar voz aos clubes e perceber as suas necessidades. Pedro Patacho realçou ainda, a importância do planeamento urbanístico e ordenamento do território, como ferramentas centrais à promoção do desporto.

Já Manuel Assunção, argumentou não haver uma estratégia que seja compatível com milhares de estratégias em todo o lado. Nesse sentido, “as câmaras, os municípios e as autarquias são gestoras de equilíbrio”.

Apesar das respostas terem sido unânimes no que respeita ao papel das autarquias na dinamização do desporto, um outro ponto fulcral saltou à vista – a pandemia afetou fortemente o Mundo e o setor desportivo não foi exceção, contudo, em muitas matérias, o desporto já estava enfraquecido na era pré-COVID.

Para Manuel Assunção, Presidente da Assembleia Geral da Confederação do Desporto de Portugal, houve uma perda significativa de jovens no desporto federado, com impacto na sustentabilidade dos clubes. Um pensamento defendido pelo Presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, que acredita que “o futuro do país são as crianças”. Crianças essas que cada vez mais têm sido privadas do exercício da prática desportiva e afastadas da sociedade, o que compromete o seu futuro. Jorge Vieira deu o exemplo de uma frase da “velha guarda” que diz: “Se queres ver os governantes do futuro, observa a sala de aula de hoje”. Uma citação que adaptou à sua forma de descrever o futuro do desporto em tempos de guerra. “Se queres ver os medalhados de amanhã, observa as crianças hoje em movimento”. Jorge Vieira defendeu ainda que é imperativo que se desenvolvam políticas que promovam a prática desportiva.

“Vamos conseguir dar a volta a isto e vamos fazer melhor”, foi o pensamento de esperança partilhado por Pedro Patacho que, defendeu a criação de um ecossistema educativo. “As crianças devem aprender a ser fisicamente ativas”.

E a prática diária da atividade desportiva permite, não só uma vida ativa mais saudável, como também permite aos clubes alimentarem-se dos feitos dos seus atletas. Afinal, os portugueses são um povo de superação, defendeu Jorge Vieira. “Uma visão sem planos de ação pode ser apenas um sonho”, finalizou Manuel Assunção. Enredos à parte, não fosse o desporto ter nascido num contexto de prazer, o mesmo prazer que lhe dá vida.

As sessões quinzenais da “CDP Entrevista” são às terças-feiras, pelas 21h, com transmissão em direto no Facebook da Confederação do Desporto de Portugal, para dar voz aos vários intervenientes ligados ao setor desportivo nacional.

Fonte: CDP, 10/03/2021