CONFEDERAÇÃO DO DESPORTO DE PORTUGAL
Agravamento para casos graves e redução para dopagem acidental

A Agência Mundial Antidopagem (AMA) pondera flexibilizar as sanções previstas pelo código mundial, que se encontra actualmente em revisão. Este organismo pretende penalizações mais leves para os atletas que registem controlos positivos acidentais e o agravamento das suspensões para os casos mais graves, em particular os “batoteiros sistemáticos”.

“A responsabilidade do atleta mantém-se, mas, quando há um acidente, não é justo punir esse atleta com dois anos. Mas esta redução da sanção só pode acontecer mediantes certas circunstâncias e os atletas têm de convencer os painéis disciplinares de que não se doparam intencionalmente”, afirmou o presidente da AMA, Richard Pound, durante um simpósio para jornalistas, que decorreu em Lausana, Suíça.

Contudo, esta redução das penas (desde advertências até dois anos) não poderá acontecer em casos em que as análises detectem “dopantes mais graves, como, por exemplo, os esteróides anabolizantes, a hormona de crescimento [hGH] e a eritropoietina [EPO]”, esclareceu o director-geral da AMA, David Howman: “Maior flexibilidade só será aplicada no grupo chamado de substâncias específicas, que será expandido para incluir os estimulantes”.

“Não se trata de um afrouxamento”, vincou Pound, exemplificando a sua afirmação com a possibilidade de serem reforçadas as sanções para o “doping organizado e intencional” ou os “batoteiros sistemáticos”. O objectivo é aumentar as suspensões para quatro anos, não a irradiação, como já foi proposto para o consumo de esteróides, pois isso “será muito difícil, quase impossível”.

“Admito que possa haver doping acidental, com suplementos, mas a maioria dos casos de dopagem é planeada com o objectivo específico de enganar os outros e tirar vantagens”, afirmou o líder da AMA, considerando que por detrás deste “crime económico e fraude desportiva” (os atletas prejudicados perdem dinheiro e títulos) estão o “dinheiro, a fama, a ciência sem ética” e o “pessoal de apoio dos atletas, que não se arrisca”. “Isto leva a que os atletas limpos sigam o mesmo caminho quando as suas federações não são capazes de os proteger. (...) Ainda encontramos quem esteja mais preocupado com a imagem da modalidade do que com a sua integridade”, criticou.

Jacques Rogge, presidente do Comité Olímpico Internacional, pediu tenacidade na punição do pessoal de apoio dos atletas, em particular por parte das federações desportivas, que, para Rogge, devem ser sancionadas “se falharem no desencorajamento da cultura da dopagem”.

Ciência e colaboração dos Estados
Pound quis também realçar “boas notícias” na luta antidoping. “A opinião pública e a comunicação social dão agora mais atenção à dopagem e são menos tolerantes”, considerou, lembrando ainda os avanços na ciência antidoping. A agência reconhece, no entanto, que os esforços das autoridades desportivas são insuficientes para detectar e travar os esquemas de dopagem mais sofisticados. Por isso, têm apostado numa colaboração dos Estados, cujas autoridades têm poderes de investigar quem, por detrás dos atletas dopados, incentiva ao doping, fornece dopantes ou desenvolve mesmo novas substâncias.

“A ‘Operación Puerto’ é um bom exemplo”, disse, considerando, contudo, que “os procedimentos deveriam ser mais rápidos”, pois está a iniciar uma nova temporada de ciclismo e “ainda não foi possível sancionar disciplinarmente os ciclistas”. “As provas estão protegidas pelo segredo de justiça até ao julgamento e, até lá, temos de actuar na presunção que ninguém é culpado antes das sentenças. (...) É preciso criar forma de os Estados darem informações às autoridades desportivas sem colocarem em causa o segredo de justiça”, propôs Pound.

Suspensões preventivas automáticas
O líder da agência reconheceu, contudo, que “a justiça demora, mas pune”, dando como exemplo a luta do ciclista norte-americano Tyler Hamilton, campeão olímpico em contra-relógio, para evitar nos tribunais uma suspensão por doping através de transfusão sanguínea: “Interpôs recursos atrás de recursos, mas foi punido. Um advogado com ética diria ao atleta: ‘nós poderemos gastar muito dinheiro, mas acabaremos por perder’”.

Para evitar casos como este, onde há um arrastamento dos processos na justiça desportiva, a AMA pretende que o código mundial antidoping preveja suspensões preventivas automáticas assim que as contra-análises confirmem a positividade dos testes. Em declarações à Reuters, proferidas após o simpósio para a imprensa, Pound propôs ainda tornar obrigatório que a contra-análise seja realizada até 48 horas depois da análise da amostra A, para que os atletas e os seus peritos não tentem atrasar as contra-análises deliberadamente, para que as amostras B se degradem.

Fonte: Podium

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