Jogadores do Sporting roubaram cassetes e a Censura não deixouque os jornais o pusessem em título…

O desporto na história  do 25 de Abril (2)

Por António Simões

O 1º de Maio de 1974 viveu-se num ainda mais apaixonante hino à liberade – com Portugal a caminho de ver (em alvoroço e frenesim) Florbela Queirós em topless como símbolo da Nova República… «livre e democrática» e de, no Século Ilustrado, se notar que no mundo do espectáculo a moda passara a ser o nu. 

Menos de um ano antes pela publicidade dos jornais andara a revista que incendiara o Parque Mayer com… «25 lindas mulheres»: Tudo a Nu com Francisco Nicholson, Rui Mendes, Henrique Viana, Anabela e Helena Isabel (Miss Portugal Fotogenia, depois de ter sido ginasta do Lisboa Ginásio, numa equipa que contava também com Isabel Bahia que haveria de tornar-se igualmente rosto marcante na RTP).

Não, no país ainda não andava tudo a nu – e, tendo o JN enviado à Censura nota assim: «Fafe. Protestos do clube local por os seus jogadores terem sido agredidos e ainda castigados. A direcção do clube vai reclamar para o Comando da GNR, em virtude da sua passividade perante o que se passou» o Dr. Ornelas (responsável pelo Exame Prévio, nesse dia) mandou dizer: «É para cortar».

«Para cortar» foi ainda notícia que contava que «professores primários de Almeirim andavam descontentes e mal pagos, não queriam receber 6 escudos por hora» (2 escudos era o que custava, então, cada edição do jornal A BOLA). E, sem espanto, se proibiu igualmente«qualquer referência» ao facto de «ter sido atirado um pano a arder para dentro da residência na Chamusca de Carlos Amaral Neto, grande proprietário e presidente da Assembleia Nacional». E impedida ficou ainda notícia de «ter rebentado uma mina entre Viseu e Lamego, ferindo um soldado e matando outro, estavam a preparar-se para serviço no Ultramar.»

PORTUGAL E O FUTURO (À VISTA)

Ciente de que a Guerra no Ultramar já só teria solução política (e não militar) António de Spínola largou a ideia no livro que escreveu (sem imaginar, talvez, que a revolução se soltaria, mais ou menos insinuante, das suas páginas)Portugal e o Futuro.

Os 2000 exemplares postos à venda (por 100 escudos) ao meio dia de 22 de fevereiro de 1974 na livraria do Apolo 70 esgotaram em 15 horas. Quase em todo o lado aconteceu o mesmo entretanto – e, acabando de lê-lo, parece que Marcelo Caetano desabafou: «Um golpe de Estado é agora inevitável». Partindo de «fim-de-semana a ares» para o Buçaco, no regresso a Lisboa Caetano solicitou a Américo Tomás (o presidente da República que fora presidente do Belenenses) que o exonerasse de Presidente do Conselho e Tomás não o exonerou. 

Afastando-se António de Spínola (tal como Francisco Costa Gomes) da chefia do Estado-Maior das Forças Armadas, Marcello Caetano voltou a solicitar ao Presidente da República que o demitisse – e a resposta de Américo Tomás saiu de um redondo vocábulo (como a da outra vez): «Não! Não e já é tarde para qualquer de nós abandonar o cargo!»

Sporting e um jogo que ficou na História

JOGADORES DO SPORTING PRESOS

Com Marcello Caetano no lugar de António Oliveira Salazar, Portugal deixara de ser o país da PIDE mas só no nome – ao transformar-se a polícia política em DGS:Direção Geral de Segurança. A União Nacional (o partido único do Estado Novo) tornara-se Acção Nacional Popular e a Comissão de Censura passara a Exame Prévio. 

Não tendo a malha tão apertada como tivera antes, não deixava, porém, de ter censores a telefonarem para as redações dos jornais, embrulhando-lhes em cinismo (ou coisa pior…) os seus «conselhos»«conselhos» assim (ou parecidos): «O senhor Director-Geral da Informação pede o favor que não se dê a notícia de um acaso ocorrido em Aldeia do Bispo, Penamacor: duas crianças, por causa de uma bicicleta, mataram uma terceira». E se, por março de 1974, o DN pudera publicar notícia que dizia: «Em Verdelha do Ruivo, Alverca do Ribatejo, preocupa-se a população com a falta de água, de rede de esgotos, de um posto escolar e, ainda, com o facto de não dispor de um único local de convívio. A escolaridade da camada juvenil é muito baixa, por as crianças terem de percorrer a pé quase cinco quilómetros de sua casa à escola mais próxima» – meses antes a Censura (aliás, o Exame Prévio) impedira títulos assim: «Jogadores do Sporting presos, julgados e condenados em Newcastle». 

Esse «incidente» em Newcastle resultara de Baltasar, Bastos e Marinho terem sido apanhados a sair de uma loja sem pagarem cassetes nos valor de 14,33 libras. Duas horas estiveram detidos, após o que juiz os condenou a pagamento de 20 libras cada um, mais 20 de despesas de tribunal e advogado. Recambiados de pronto para Lisboa, não entraram no jogo em que o Sunderland bateu o Sporting por 2-1, na primeira-mão dos oitavos de final da Taça das Taças. Vitória por 2-0 em Alvalade permitiu-lhe apuramento – e eliminando o FC Zurich, adversário seguinte foi o Magdeburgo, equipa da RDA (a parte comunista da Alemanha). A 10 de abril, na primeira-mão, os alemães saiu de Alvalade com 1-1. Sem poder contar com Dinis e Yazalde, em Magdeburgo a equipa de Mário Lino perdeu por 2-1 – e Fernando Tomé contá-lo-ia, depois: «Perto do final, o Marinho faz grande jogada pela esquerda, da linha de cabeceira deu a bola para trás, para onde eu vinha a correr… Olhei para a baliza, vi o guarda-redes e um defesa a deslocarem-se do primeiro poste para o lado contrário, toquei a bola para o lado de onde eles saíram, mas com tanta infelicidade o fiz que a bola saiu a rasar o poste, com eles batidos… Durante a noite delirei com o lance, puxei a trave uma data de vezes para ver se a bola entrava, mas não, não deu…»

NO COMANDO DA REVOLUÇÃO, BASQUETEBOLISTA

Nessa noite em que o azar afastou o Sporting da final da Taça das Taças, no Regimento de Engenharia 1, na Pontinha, estava já montado, num pré-fabricado (que servia de arrecadação do quartel) com as janelas tapadas com cobertores, o centro de comando da Revolução – formado por Otelo Saraiva de Carvalho, Garcia dos Santos, Sanches Osório, Luís Macedo, Fisher Lopes Pires, Victor Crespo e Hugo dos Santos. 

Ao chegar à Escola do Exército, Hugo dos Santos logo revelou «tremendo o jeito para o desporto» – no voleibol, no andebol e, sobretudo, no basquetebol. Ajudou a fundar o CDUL (onde jogou) – e, presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol (entre 1984 e 1992) viu, ainda em vida, a Taça da Liga de Basquetebol passar a ser Taça Hugo dos Santos. Morrendo no dia em que a República fez 100 anos (e ele tinha 77) continuava presidente da AG da Associação de Basquetebol de Lisboa – e, por querer ser cremado, pediu que fosse vestido à civil, murmurando-o: «a farda das Forças Armadas não é para queimar».

Ao chegar às bancas a 25 de abril de 1974, havia na primeira página de A BOLA desse dia um toque a premonição: Ponto Final.Claro, era o ponto final no sonho de o Sporting levar de Magdeburgo o passaporte para a final da Taça das Taças (contra o AC Milan, em Roterdão). O título da crónica de Aurélio Márcio numa das páginas interiores era: Nada a Censurar – antes pelo contrário, simplesmente faltaram os melhores. Também aí poderia insinuar-se capricho do destino: fora sobretudo a falta de sorte que traíra os sportinguistas – a falta de sorte e a falta de Yazalde e Dinis, os «dois melhores» que, lesionados, não puderam lá jogar. 

Os indícios de abertura que Marcelo Caetano (o sucessor de António Oliveira Salazar) insistia em espalhar irritavam cada vez mais a ala radical do regime (que tinha como um dos seus mais fervorosos pontas-de-lança, em São Bento, Francisco do Cazal-Ribeiro, figura ainda mais marcante na história do Sporting) – e meses cruzara algumas edições de A BOLA o anúncio a Bonitas De Mais para Serem Honestas – o filme em que quatro mulheres muito sexiestentavam roubar ladrões algures pela Côte d´Azur. A sua estrela era Jane Birkin – que, por cá, tinha censurada a canção que já lhe dera a eternidade: Je t´aime… moi non plus. Escrita (em 1969) por Serge Gainsbourg (filho de judeu russo que se exilara em França) – o Vaticano correra a considerá-la pecado: «uma obscenidade por haver nela sons cantados de um orgasmo feminino». Por isso, a proibiram por cá, como a proibiram em Itália, em Espanha, no Brasil (e se na Alemanha comunista não a baniram, na Polónia e na Jugoslávia sim…)

EUSÉBIO E OUTRO BENFIQUISTA

Proibidas estavam por cá outras canções e outros cantores – e, por isso, a 24 de março de 1974 forças da polícia montaram cerco ao Coliseu dos Recreios por, no I Encontro da Canção Portuguesa, se cruzarem José Afonsocom Adriano Correia de Oliveira ou Manuel Freire comJosé Jorge Letria, entre outros proscritos. A Grândola, Vila Morena do Zeca (que tinha já censuradas muitas das suas canções) fora entoada em coro pelo público aos milhares que enchia a sala – e depois ouviu-se em brado: Abaixo a repressão!

Às 22.55 horas de 24 de abril (de 1974) nos Emissores Associados de Lisboa, João Paulo Dinis (que fora correspondente de A BOLA em Londres pôs a tocar E Depois do Adeus com que Paulo de Carvalho (que fora futebolista nos juniores do Benfica e companheiro de tropa de Carlos Lopes) ganhara o Festival da Canção. Foi a primeira senha para o arranque da Revolução – e às 00.20 horas (do dia 25) puseram-se as tropas em marcha através de Grândola, Vila Morena (na Rádio Renascença). 

No cinema Politeama estava em cartaz Eusébio, a Pantera Negra – e mantendo-se o Quartel do Carmo, onde se acolitara Marcello Caetano, cercado pela coluna militar que Salgueiro Maia trouxera da Escola Prática de Cavalaria de Santarém (e o seu largo cada vez mais a transbordar de gente) às 4.05 horas da tarde de 25 de abril Feytor Pinto, o director do Serviço de Informação e Turismo, abeirou-se de um soldado para lhe murmurar: «Quero falar com o comandante das tropas do cerco» e conduzido a Salgueiro Maia revelou-lhe: ««Sou portador de uma mensagem para o prof. Marcello Caetano, talvez seja uma plataforma de entendimento». Voltando do interior do quartel, Feytor Pinto e Nuno de Távora anunciaram a Salgueiro Maia: «Agora vamos a casa do general Spínola». O propósito era comunicar-lhe da disponibilidade do Presidente do Conselho lhe entregar o poder… «para que o poder não caísse na rua» – e eram já 19.25 horas quando, capitulado, Marcello Caetano largou do Carmo dentro do blindado Chaimite.

Congresso AIPS 3: notas

Patrice Motsepe CAF (Foto Carlo Pazzoni /AIPS Media

Patrice Motsepe, o milionário sul-africano que mudou a CAF )Foto Carlo Pazzoni/AIPS Media)

A nova Confederação Africana

Patrice Motsepe é o sul.africano que tomou conta da Confederação Africana de Futebol há pouco mais de três. Foi o primeiro africano negro a entrar na lista da Forbes dos mais ricos do mundo em 2008, depois de entrar no negócio mineiro, que hoje se expandiu para vários setorews e várias partes do mundo. Participou via zoom no congresso e disse que a última Taça de África 2foi a mlhor de sempre – dobrou o dinheiro dos patrocínios, conseguiu receitas de 80 milhões de dólares e uma audiênci de 2 biliões de espectadores”. Explicou que tem “grande confiança no futebol africano porque há muitas escolas de futebol e é nelas que temos que continuar a investir”. Ele e a família são os proprietários do clube Mamelodi Sundowns, de Pretoria, A sua fundação, estabelecida com a mulher, Precious, procura ajudar os mais carenciados sobretudo pela educação. E considera “crítico” o papel dos jornalistas no desporto, até porque a CAF aplica tolerânia zero ao ‘match fixing’ e à corrupção e os jornalistas “têm uma grande importância para manter o desporto limpo”.

Congresso AIPS 2: notas

Morinari Watanabe, presidente da FIG (Foto Carlo Pazzoni/AIPS Media

A Inteligência Artificial na ginástica

Está por todo o lado nestes congressos, mas sabemos todos ainda muito pouco. O presidente da Federação Internacional de Ginástica (FIG) o japonês Morinari Watanabe, foi explicar que na sua modalidade não há atleta que não tenha queixas de juris e por isso há vários anos que desenvolve um projeto com uma empresa de IA para ajudar os humanos ainda que reconheça que muitos jurados não gostem e que há uma parte estética que só os humanos conseguem apreciar.

Mariagrazia Squicciarini participou por zoom (Foto Carlo Pazzoni/AIPS Media)

A IA e o Jornalismo

Gianni Merlo, o italiano que preside à AIPS, gosta muito dos temas modernos e este é ujm deles. Tão moderno que Santi Nolla (diretor de Mundo Deportivo, de Barcelona) e Juan Gnacio Gallardo (diretor da Marca, jornal de Madrid) ou Lionel Dangoumau (diretor de redação do L’Equipe francês) não conseguiram acrescentar muito. Já Mariagrazia Squicciarini, CEO e diretora de IA  na Unesco, foi mais longe. Para ela o grande problema é a  Neuro IA,”que é capaz de manipular os pensamentos”.referindo-sa à interseção entre a neurociência e a IA. Ou seja, o uso de técnicas e algoritmos de IA para compreender o funcionamento do cérebro e desenvolver sistemas que o imitem, A poliglota italiana avisou contra “o facto de dizermos sempre sim aos cookies todos” e que o acesso à tecnologia não é democrático, porque os pais ricos têm muito mais facilidade. “Por isso, os Jornalistas têm que ter noções de ética claras e têm que perceber que o uso destas ferramentas tem que ser regulado”. A responsável da Unesco salientou que “a IA não é uma caixa preta – é antes algo que pode ser controlado colocando pontos de controlo na programação”. Santi Nolla manifestou-se convicto de que os Jornalistas se adaptarão à IA, como fizeram com todas as ferramentas novas que apareceram nos últimos 40 anos. Lionel Dangoumau disse que “muitos jornais têm vindo a usar a IA a curto prazo sem dar conta do perigo que isso representa”, deixando o conselho aos jornalistas para não perderem o seu toque pessoal. “A IA só pode usar formação publicada e estudos feitos, não pode prever o futuro. Nós jornalistas damos-lhe a emoção”. Mas Juan Ignacio Gallardo, por seu lado, não está certo disso: “A IA é só um bebé. Ninguém sabe como vai crescer e não sabemos bem o que fazer. Talvez rezar, ou talvez regular”.

Juan Ignacio Gallardo (Marca=, Lionel Dongmo (L'Equipe) e Santi Nolla (El Mundo Deportio) em Santa Susanna

Juan Ignacio Gallardo (Marca), Lionel Dangoumau (L’Equipe) e Santi Nolla (Mundo Deportivo) em Santa Susanna

 

 

 

Congresso AIPS 1: Primeiras notas

Centenário em Santa Susanna

 

A praia de Santa Susanna, a 55 quilómetros de Barcelona (no caminho para Girona) recebe o 86º Congresso da Associação Internacional da Imprensa Desportiva (AIPS), no Hotel Atzavara. Chove muito, mas apesar de tudo trata-se do Congresso do centenário, porque a AIPS foi fundada em 1924, em Paris, também então a acolher os Jogos Olímpicos. Este ano, a 6 de Agosto, na sede da Unesco na cidade-luz, se vai realizar uma jornada de comemoração. Antes, a 22, o Presidente francês, Emmanuel Macron, quer receber toda a Imprensa desportiva no Eliseu, antes dos JO.

Gustavo Rotstein, da TV Globo, benfiquista dos tempos em que viveu em Aveiro

AIPS Media Awards

Ontem à noite realizou-se a cerimónia de entrega dos AIPS Media Awards, no Pavilon, aqui em Santa Susanna. A menina dos olhos de Gianni Merlo, presidente da AIPS, distinguiu gente de vários continentais, trabalhos que podem ser vistos em aipsmedia.com. Gustavo Rotstien, carioca, veio receber em nome de uma equipa de cinco elementos (dois repórteres dois produtores e um cenegrafista) da TV Globo, que ganhou o prémio para Reportagem video curta. É a história da Irmã Isabella, do Acre, no interior,  jogadora de futebol e que faz grande trabalho social. Roststein viveu em Aveiro onde ainda tem família, confessa-se benfiquista mas viu mais jogos no Dragão, trabalhou para O Jogo e outros órgãos de comunicação em Portugal mas há vários anos que está no Brasil e na Globo.

 

Jaap de Groote

Antigo chefe da secção desportiva do De Telegraaf holandês, um bom amigo do nosso António Florêncio, hoje trabalha para televisões da Austrália e dos EUA e também da Holanda, ou ainda para outros OCS na internet. O jornal foi comprado por uma companhia belga e foi ultrapassado pelo AD no que ao desporto diz respeito. “Saí porque quis e estou satisfeito”, diz-me. Conversámos sobre vários temas e deixou uma ideia. “Hoje digo sempre que quando se tem uma notícia exclusiva, dou-a logo mas guardo parte das informações. E não cito ninguém – se citar, alguém da concorrência vai falar com ele e dá a notícia como sua. Passadas umas horas, dou o resto”. É a maneira de fazer render a notícia, nestes tempos de Jornalismo do imediato. Jaap foi um dos jurados nos Prémios da AIPS.

Edwin Moses, multicampeão dos 400m barreiras, durante a sessão com a AIPS em Santa Susanna

Edwin Moses

Estes primeiros dias – o Congresso mesmo é amanha, quarta-feira -são preenchidos com um programa variado. Edwin Moses lançou um filme sobre a sua vida e sobre os quase dez anos seguidos em que não perdeu  uma prova (1977 a 1987). Esteve numa das sessões a contar como o seu pai era oficial do exército, como ele nem sequer pensava ser atleta (estudava engenharia) e como passou a fazer 13 passos entre cada barreira. Simples, direto, continua um campeão. O filme, autobiográfico, chama-se mesmo “Edwin Moses – 13 passos” e nele falam, entre outros, Spike Lee e Samuel L. Jackson, que Moses explicou foram seus amigos de infância, “Desde 1997 que pensei neste filme, que ainda por cima tem sequências filmadas pelo meu pai, que tinha uma câmara de 9mm”, contou.

 

 

 

Jornalistas de Portugal, Espanha e Marrocos unidos para o Mundial 2030

Dali Azeroual, Morad Moutaouakkil, Badeddrine Drissi, Manuel Queiroz, Juan António Prieto, Julian Redondo, Juan Ignácio Gallardo (Fotos Mohamed Fliss)

As organizações de Jornalistas Desportivos de Portugal, Espanha e Marrocos, os países que vão acolher oficialmente o Mundial de futebol de 2030, decidiram este domingo preparar um protocolo com vista a que aquele Mundial tenha a melhor e maior participação possível dos seus Jornalistas.

No Hotel Ayzsavara, em Santa Susanna, a 59 quilómetros de Barcelona, onde está a decorrer o Congresso do centenário da AIPS, Manuel Queiroz, pelo CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto, Julian Redondo, presidente da Associacion Española de Prensa Deportiva  (AEPD) e Badeddrine Drissi, máximo dirigente marroquino, decidiram que vão assinar um protocolo em Setembro, em Tânger, num encontro a 11 e 12 de Setembro.

A ideia é que se troquem ideias para estruturar o acordo e que em Setembro se passe aos actos, com um seminário e uma visita a algumas zonas que serão importantes durante o Mundial 2030.

A iniciativa do encontro foi espanhola, nomeadamente de José António Prieto que é membro do Comité Executivo da AIPS, e nele participaram ainda Dali Azeroual e Morad Moutaouakkil, da associação marroquina, e Juan Antonio Gallardo, diretor do diário ‘Marca’.

A união dos três presidentes

 A Revolução talvez falhasse se o antigo presidente da FPF não tivesse sido «ridículo» e «apalhaçado»

O desporto na história  do 25 de Abril (1)

 

 

Na passagem do ano de 1972 para o ano de 1973, um grupo de 91 católicos juntaram-se no Rato para a missa – e, depois dela, deixaram-se ficar pela capela a «orar, jejuar e refletir sobre a guerra de África». Para que se lhes vincasse a rebeldia, afixaram-se papeletas com números de mortos em combate, imagens de populações dizimadas eestropiados de ambos os lados e clamores soltos em lamentos e desconcertos, destroços e terrores – e tudo issohaveria de inspirar a Cantata da Paz de Sophia de Mello Breyner:

Vemos, ouvimos e lemos/ Não podemos ignorar. 

De escantilhão entrou a polícia na capela que o Marquês da Praia (avô de Duarte Borges Coutinho, por essa altura presidente do Benfica) mandara construir no seu palacete e doara ao Patriarcado de Lisboa após a morte de Maria Francisca, a filha que se tornara condessa de Cuba – e, como ninguém arredou pé, uns foram levados para esquadra ao lado, outros atirados para Caxias. 

De uma coisa e da outra se livrou Alberto Neto, seu pároco, porque uma broncopneumonia o jogara à cama, de véspera: «Estava, claro, ao corrente de tudo e de tudo dei conhecimento ao senhor Patriarca». Mesmo assim o padre Alberto teve de «ir ao suplício da António Maria Cardoso» (a sede da PIDE que, com Marcello Caetano no lugar de Salazar, passara a denominar-se Direção Geral de Segurança, DGS) – e quando percebeu que «da tortura psicológica se preparavam para saltar para a tortura física», avisou os torcionários: 

– Tudo o que aqui me fizerem direi no altar!

Três dias volvidos, Alberto Neto sofreu acidente de automóvel de que saiu com perna partida (para seis meses em convalescença): 

– Extenuado do intenso interrogatório na DGS, essa foi a causa do desastre». 

CONTRA A VIGÍLIA, O ULTRA QUE FOI PRESIDENTE DO SPORTING

Filho de dois professores primários, Alberto Neto Simões Dias nascera, por fevereiro de 1931, em Souto da Casa, no Fundão. Estudou nos seminários do Patriarcado de Lisboa, de Santarém, de Almada e dos Olivais. Ordenado em agosto de 1957, iniciou o trabalho sacerdotal nos Jerónimos, como coadjutor do padre Felicidade Alves (que, ao descobrir-se simpatizante comunista seria de lá afastado pelo Cardeal Cerejeira) – logo se notando pelo frenesim com que puxava os seus jovens à prática de atividades desportivas também. 

Professor no Liceu D. João de Castro e no Liceu Pedro Nunes, por entre o rol dos seus alunos passaram Francisco Louçã e Marcelo Rebelo de Sousa e fora dos Jerónimos que o padre Alberto saltara da Capela do Rato, salpicando as suas homilias com «a denúncia das injustiças e o alerta das consciências» – ou aquilo que Jorge Wemans resumiria assim: «Não fundou obra, escola, partido, seita. O padre Alberto Neto limitou-se a viver e a viver a sério. A sua liberdade era um contágio de esperança e confiança. Um profeta com palavras de poeta. Um homem excecional».

Condenada a vigília do Rato pelo Cardeal-Patriarca, D. António Ribeiro. o governo de Marcello Caetano espalhou pelos jornais nota cheia de diatribes contra os manifestantes, acusando-os de «subversão e traição à Pátria», a hipócrita dialética do costume. Com Alberto Neto afastado da capela e demitidos todos os funcionários públicos que na vigília participaram, o Rato entrou, brusco, por São Bento dentro.

Francisco Cazal-Ribeiro fora presidente do Sporting e da FPF (a federação deixara-a em 1969, quando, em Angola, lhe morreu um filho, na guerra) e era a a voz dos ultras do regime na Assembleia Nacional (para além de comandante da Força Automóvel de Choque na Legião, talvez o seu mais brutal batalhão) – e, sendo cada vez mais um dos rostos da ala mais radical do salazarismo na Assembleia Nacional, envolveu-se, no parlamento, numa acirrada discussão com Miller Guerra (deputado da Ala Liberal, tal como Francisco Sá Carneiro e José Correia da Cunha, então presidente da Federação Portuguesa de Atletismo) que lamentara, em pleno hemiciclo, a ação policial contra quem «rezava na capela» e a campanha de «demonização» do seu padre…

 

DA CONQUISTA DA TAÇA DAS TAÇAS AOS DIPLOMAS INCENDIÁRIOS

Quando (a 27 de setembro de 1968) Marcello Caetano substituiu António Oliveira Salazar na Presidência do Conselho, puxou o general Horácio José de Sá Viana Rebelo para seu Ministro da Defesa Nacional. Admitido sócio do Sporting em outubro de 1944, acabara de ser promovido a capitão do exército e, para além de engenheiro e professor da Academia de Altos Estudos Militares, tornara-se membro da Junta Central da Legião Portuguesa. Um ano depois, fizeram-no deputado da União Nacional, pelo parlamento andara até 1950 – e uma das mais emotivas intervenções de Sá Viana Rebelo em São Bento foi para repudiar as «notícias tendenciosas publicadas nos jornais estrangeiros» sobre o estado do Estado Novo. Salazar gostou tanto que o chamou para o governo, deu-lhe o cargo de subsecretário de estado do Exército. Passara de tenente-coronel a coronel – e, entre 1956 e 1959, fora governador-geral de Angola. No regresso de Luanda, subira a brigadeiro e voltara ao Instituto de Altos Estudos Militares e à Academia Militar. Fora lá, quando estava como professor do curso de Estado-Maior, que foram convencer Sá Viana Rebelo a assumir a presidência do Sporting, a presidência a que vários outros ilustres foram fugindo, apesar de desafiados. Tomaria posse a 10 de abril de 1963, assumindo que aceitaria apenas um mandato, o qual terminou a 29 de maio de 1964 porque o prolongaram por um mês para que ainda pudesse ser presidente do Sporting no dia em que o Sporting jogasse a final da Taça das Taças, que ganhou aos húngaros do MTK no cantinho do Morais

Por altura da posse de Horácio de Sá Viana Rebelo como Ministro da Defesa Nacional, pelos teatros de guerra nas colónias espalhavam-se 117 684 homens: 58 230 em Angola, 36 615 em Moçambique e 22 839 na Guiné. Apesar de os verdadeiros números serem «segredo de estado» – estimava-se que pudesse haver já mais de 5000 baixas (e entre os mortos estavam, por exemplo, um dos filhos de José Szabo, o treinador mais ganhador do Sporting, e um dos filhos de Francisco de Cazal-Ribeiro, que, sendo, como Góis Mota, um dos líderes da Legião, fora presidente do Sporting entre 1957 e 1958 e presidente do Conselho Fiscal durante o mandato de Sá Viana Rebelo). 

Num sinal do que já se dizia que era a «primavera marcelista», desatou-se rumor de que Caetano cogitava lançar Sá Viana Rebelo como candidato a Presidente da República (para se desfazer de Américo Tomás) – e, em vez disso, Sá Viana Rebelo tornou-se vítima do Movimento de Capitães que haveria de levar à Revolução: decretos que assinara favorecendo o acesso de oficiais milicianos ao Quadro Permanente deixaram as forças armadas em polémica atiçada e na ânsia de apagar-lhe o crepitar, Marcelo Caetano deu à contestação a sua cabeça (forçando a sua demissão a 7 de novembro de 1973). 

Semanas depois, o Expresso mandou ao Exame Prévio (como passara adesignar-se a Comissão de Censura) notícia que dizia: «O general Horácio de Sá Viana Rebelo, que, até à última remodelação ministerial, ocupou o cargo de ministro da Defesa Nacional, será em breve nomeado para o Conselho de Administração da Companhia Portuguesa de Electricidade. Engenheiro, o general ocupará, provavelmente, a presidência» – e a determinação do censor de serviço foi «não sair nada». Como não pôde sair outra notícia que ia no rol: «Uma manifestação de características invulgares teve ontem lugar no liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, onde cerca de 600 das jovens alunas se reuniram num meeting de protesto pela detenção de uma sua colega». (Essa percebia-se, claro…) 

 

O PADRE JÁ ESTAVA NO SPORTING E A PIDE JULGAVA QUE A GNR ESTAVA FIXE

Sem que o Movimento das Forças Armadas esfriasse as suas conspirações, como Vasco Lourenço (que haveria de tornar-se igualmente figura grada no Sporting) fora parar à prisão na sequência do falhado Golpe das Caldas, indicara-se Otelo Saraiva de Carvalho para o comando do que se decidira imparável: a revolução (que se apontou para a madrugada de 25 de abril). Hugo dos Santos (que haveria de tornar-se figura grada do basquetebol, dando-se-lhe o nome à Supertaça) batera à máquina o programa que Melo Antunes escrevera à mão e a proclamação para ser lida aos microfones de uma rádio a escolher. 

Ao tomar posse como presidente do Sporting, João Rocha puxara o padre Alberto Neto (já afastado da capela do Rato) de responsável pelo futebol juvenil para responsável pelo futebol profissional e, ao chegar-se ao dia 24 de abril, ficou o seu Sporting a um golo da final da Taça das Taças. Por essa altura, tinha a FPF um diretor chamado Marcelo Rebelo de Sousa que o revelaria (a Alexandra Tavares Teles para o Notícias Magazine): 

– Indo ver o jogo do Sporting na RDA a casa de um amigo que morava junto ao estádio do Belenenses, no final do jogo, peguei no meu carro, um Fiat 127 branco, e regressei ao Expresso. O fecho dava um trabalhão porque o jornal estava sujeito à prova de página – mandar ao Exame Prévio, à censura, textos e imagens, títulos, publicidade. Saindo de lá por volta das cinco da manhã, ao cruzar o Marquês, apercebi-me de movimentos militares.

Tendo o Sporting empatado 1-1 em Alvalade, em Magdeburgo perdeu por 2-1 – o golo que lhes faltou levou a que cada um dos seus jogadores perdesse 50 contos, prémio de passagem à final. (Um Fiat 127 como o de Marcelo custava 94 contos e se os salários dos professores andavam pelos três contos e meio, de «luxo» eram os ordenados dos capitães do exército que fossem em missão para o Ultramar: 14 contos.) 

Indo a caminho da sua casa Marcelo Rebelo de Sousa (cujo pai, Baltazar Rebelo de Sousa, era Ministro das Corporações, o Ministro das Corporações que permitira que os jogadores de futebol tivessem Sindicato legalizado desde que Jorge Sampaio, o advogado oposicionista que lhe fizera os Estatutos, seu advogado não fosse…) – Fernando Silva Pais (director da PIDE-DGS cujo irmão fora presidente do Barreirense) ligou, para a casa de Marcelo Caetano, sem esconder a aflição: 

– Senhor Presidente, a Revolução está na rua! O caso é muito grave…

e, recomendando-lhe que fosse para o quartel do Carmo em busca de refúgio, murmurou-lhe: 

– É que a GNR está fixe!

 

O PRESIDENTE DO FC PORTO QUE SAIU DE ELEIÇÕES DIFERENTES DAS FARSAS DE SALAZAR

Em 1953, fizeram-se no País eleições como já era timbre: mais ou menos em farsa.

Cartazes da União Nacional diziam que Votar Com Salazar É Garantir a Paz e o Pão – e apanhando-a a remexer caixotes do lixo em busca de comida para os filhos, fora presa viúva no Porto. A Maria Joaquina da Silva Teixeira levaram-na ao Tribunal de Polícia por a encontrarem palmilhando ruela de pé nu: 

– Era só um, Sr. Dr. Juiz, andava doente dele… olamuriou-se e, levantando-se do banco dos réus, mostrou-lhe duas feridas ainda a lazará-lo. O magistrado, sem desarmar a compostura, exclamou-lhe (a tocar para o jocoso): 

– O que vejo é que está sujo… e se tem o pé doente mais uma razão para andar calçada… e despachou-lhe a condenação com multa de 16 escudos e 50 centavos e mais 50 escudos pelo «mínimo de imposto de justiça». O Benfica contratara Otto Glória para seu treinador, pagando-lhe 12 contos por mês. Baptista Pereira ganhara a Travessia da Mancha – e no intervalo dos treinos e do trabalho numa fábrica de cimentos a 26 escudos por dia ainda se aventurava a distribuir, clandestino, o Avante. 

Indo Urgel Horta para deputado da União Nacional indicou para seu sucessor na presidência do FC Porto, Abel Portal. Não o aceitando, Cesário Bonito lançou-se à corrida como «candidato de oposição», logo se lhe ouvindo com audácia: 

O 25 de Abril e o Desporto

A partir de logo, o cnid.pt vai publicar uma série de textos sobre o 25 de Abril e as histórias (muitas) em que se cruza com o desporto. São da autoria do vi e-presidente António Simões, seguramente a maior autoridade na matéria pelo muito trabalho publicado em ‘A Bola’ e em livro. Mas haverá textos de outras pessoas, e podemos apelar a que, quem queira contribuir, o faça também. Também no desporto o ‘dia inicial inteiro e limpo’ foi um momento de viragem no nosso país e há muitas histórias pouco conhecidas, ou deeconhecidas mesmo, que se irão contar. São os 50 anos do 25 de Abril que o CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto não pode deixar de marcar.